O som ritmado dos saltos grossos ecoaram pelo saguão vazio do prédio. O chão de mármore impecavelmente limpo transmitia o ar austero e asséptico do velho prédio estatal, agora um prédio de escritórios particulares. Móveis modernos decoravam o saguão de pé direito amplo, um lembrete constante da pequenez do indivíduo em face da grandiosidade do Estado.

A mulher caminhando para a recepção, carregando uma pasta de couro, chamou a atenção dos atendentes e poucos seguranças. Trajava um casaco caro e bem cortado, verde musgo, botas altas de couro e usava o cabelo negro trançado num penteado alto. Os olhos, de um verde quase amarelado, eram vistos através de óculos de armação grossa. Apesar da aparência extravagante, não destoava dos inúmeros turistas, que inundavam as ruas da cidade todos os dias do ano em negócios na cidade. Quando ela se dirigiu à atendente pálida e dolorosamente magra, de cabelos presos num coque apertado, o seu russo impecável foi notado com estranheza.

"Típico..."

Estava muito longe de casa, no entanto, não ficava surpresa com aquele olhar desconfiado. Nascer diferente era uma vantagem. Afinal, todos esperavam algo, e, quando surpresos, tornavam-se vulneráveis. A estranha sorriu para a mocinha confusa.

— Boa noite, querida. Sou aguardada na sala 707 — Estendeu o cartão prateado sem marcações. O convite de seu novo contratante.

A garota piscou algumas vezes, hipnotizada pela outra mulher. Não sabia dizer se ela era mais velha ou mais jovem. Apenas impressionante. Pegou o cartão sem pensar, conferiu a ordem de entrada e liberou a passagem.

— Os elevadores ficam à direita...

Num passo decidido e rápido, a outra sorriu e se dirigiu para longe. Só então a atendente percebeu que outros aguardavam na fila. Olhou mais uma vez para a mulher que entrava no elevador. Por alguma razão, mal se lembrava dela. Provavelmente o turno da noite já estava afetando sua mente.

Os corredores tinham a mesma decoração austera em proporções menores. Tudo era muito imponente, porém, desprovido de curvas. A porta indicada com o número 707 ficava no final do corredor à esquerda, cinzenta, com números gravados em baixo relevo, igual a todas as outras no andar. O chão, do mesmo mármore claro do saguão, era mais gasto e exalava um odor peculiar de produtos de limpeza. Não havia outras pessoas além da visitante transitando naquele andar específico.

Ela parou diante da porta e bateu duas vezes, o som abafado pelo couro das luvas que protegiam suas mãos do clima externo. Não havia pressa, mas firmeza, nas batidas ritmadas. Um rapaz de olhar sério e muito bem alinhado entreabriu a porta, fitando a mulher ali parada com uma expressão interessada. Talvez seu novo cliente não recebesse muitas visitas. Não era incomum, mas o homem à sua frente, claramente, ainda respirava.

"Interessante…"

O homem, jovem ainda, deu um leve suspiro, e, de forma educada, falou numa voz pausada.

— Boa noite. Em que posso ajudar?

A estranha apresentou o mesmo cartão prateado, exibindo um sorriso estudado.

— Boa noite. Acredito que sou aguardada.

Pegando o cartão entre as mãos, o rapaz observa por um momento longo, e, então, permite que ela entre, tomando o cuidado de tocar apenas o objeto, sem fazer contato físico com a visitante. Assim que ambos estão no lado interno do umbral, ele fecha a porta às suas costas, e, num passo treinado, sinaliza que irá anunciá-la.

Deixada sozinha, ela inspirou fundo, não porque precisava, mas os aromas do rapaz impregnavam todo o ambiente.

"Expectativa, curiosidade… Excitação."

Um servo, com toda certeza. Seu aroma era uma ótima distração. Contudo, ela se pegou observando a discrepância na decoração. Apesar do desenho de linhas retas das grandes janelas, combinando com toda a arquitetura local, os móveis eram de um estilo clássico. Poltronas forradas em tons escuros, paredes cobertas com um papel de parede intrincado. Uma larga mesa de atendimento de madeira envelhecida, nos mesmos tons da decoração, com papelaria e arquivos impecavelmente organizados. O telefone sobre a mesa tinha um design antiquado, dando a impressão de que devia ser um artigo adquirido com a sala. Não havia quadros. As janelas tinham pesadas cortinas, agora abertas, deixando ver as curvas do rio iluminadas à noite. Quem quer que houvesse decorado o lugar tinha um gosto particular pelo romantismo tardio.

Não foi preciso aguardar muito. O secretário retornou da porta oposta a que entraram, deixando-a entreaberta, não o suficiente para mostrar quem a ocupava, mas o suficiente para instigar um observador atento. Sem aguardar um convite mais ostensivo, a mulher caminhou para o aposento iluminado à sua frente, e a porta foi fechada assim que ela passou.