As noites se amontoavam num ritmo frenético em que decisões urgentes se misturavam à simples sobrevivência. Mergulhar no trabalho era mais simples. Poucos estavam perto o suficiente para ver que a feiticeira, talentosa, não era realmente habilidosa em lidar com suas emoções. Por anos foi cômodo existir entre imortais, em seus jogos de poder, apenas não se importando além de um contato superficial. Sorrir, acenar, enganar… Um roteiro aprimorado muito antes da maldição de Tremere correr em suas veias. Expressar o que lhe vai na alma sempre pareceu complexo, exatamente porque quem podia ver, também podia ferir. Ainda assim, havia uns poucos que enxergavam além de sua máscara, e para estas pessoas ela dedicava uma atenção especial, mas também nutria um medo visceral.
Essa constatação estava plasmada em suas mãos… Uma carta de tarot. Os dedos cheios de anéis moviam o pequeno objeto sob a luz filtrada da luminária. O apartamento, que tão poucas noites atrás estava cheio de vida, agora parecia o palco vazio de um teatro esquecido. Olenska fechou os olhos por um momento longo. Ela quase podia ouvir os risos de Oskie, a conversa animada de Simon, Yennefer e Annabelle. Até mesmo as poucas visitas de Alex. Pensar nele a fez sentir uma pontada.
A carta continuava em suas mãos, queimando frases não ditas.
Sua filha havia se afastado. Levada pelas ameaças da noite que Olenska transformou em existência. Mesmo Alex havia desaparecido em suas próprias angústias. E onde ela estava? sozinha. Mais uma vez, tudo que ela… Amava… não estava lá.
Os primeiros acordes de um violino encheram o ambiente, enquanto a temperatura na sala baixava alguns graus. Por um breve instante ela não se sentiu mais sozinha. E sua alma esfriou exatamente como o vento invernal que vinha da varanda. Se alguém observa-se com cuidado, poderia jurar que havia uma silhueta atrás das cortinas. A canção dele era uma ode ao que não estava mais ali. A bruxa se levantou e caminhou pelos cômodos vazios. Ponderando o que faria adiante. Observou cada detalhe, como se procurasse gravar aquele pequeno espaço na memória. Recolheu os traços humanos deixados para trás, como se quisesse apagar aquela existência.
“Ele tem de saber!”
Gritava uma voz insistente dentro de si. Mas essa era a mesma voz que não permitia a realização do único ato de misericórdia com o que havia restado de Petr.
“Eu não posso ficar sozinha…”
Dizia a voz.
Pouco importava. Ela sempre esteve sozinha. Todas as vezes que se importou, algo era tirado dela… Seu pai, Petr, Oskie e agora Alex. Parou, diante de um espelho, os olhos iluminados pelas luzes difusas de um apartamento vizinho. “Eu sou um monstro e ele também…” sentiu a carta em seu bolso e pensou no sorriso doce de Susanna e em suas palavras sobre o amor por Sarae. A pergunta queimava em sua mente.
“Seriam monstros capazes de amar?”
A voz cínica em sua mente respondeu o óbvio. “Amor é poder!”. Controle sobre o outro. Ela sabia que não desejava controlar Alex Black ou mesmo Oskana. Durante tanto tempo, acreditou que afastava a filha para ter controle, mas era apenas a defesa de um amor que ela não sabia como lidar. Amá-los era deixá-los partir, afastá-los do que ela precisava fazer. O som do violino começou a desvanecer. O silêncio oprimia seus sentidos. No fim… o que restava era inalcançável. Um desejo incompleto.
Pegou o celular mais uma vez. Havia várias mensagens de Oskie, todas preocupadas. Se permitiu, por um momento, abandonar a feiticeira e respondeu, como uma mãe amorosa, porém distante. Sabia que estava magoando sua criança mandando que partisse, porém… Pensou em Valentin e sua inimizade, não poderia deixá-la em Starry Dom, não por hora...
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Texto escrito por Evelling Castro para a personagem da crônica Staryy Dom by Night - Vampiro: A Máscara, Olenska Dimitriova.
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<aside> 💀 Este conto faz parte do material produzido para a personagem Olenska Dimitriova, em sua participação no universo ficcional da campanha de RPG Staryy Dom by Night, do sistema Vampiro a Máscara Quinta Edição, jogada e exibida via stream no canal ****https://www.youtube.com/casavelharpg
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<aside> ⚠️ AVISO: Os textos a seguir podem conter linguagem imprópria, alusão a violência e descrições de ações perigosas. A Autora não incentiva que nada do que está escrito seja praticado no mundo real. Recomendado para maiores de 18 anos
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