O pôr do sol pintava o tapete de entrada através dos vidros da porta, um pouco sujos, onde a placa de “ABERTO” balançava levemente, após a saída do último cliente do dia. Do balcão, ao fundo, próximo as estantes de não ficção, onde pequenas edições de bolso se empilhavam, junto a postais com frases famosas, a garota exausta, tentava, novamente, limpar a marca de café na mesa onde trabalhava.
Seu turno de trabalho sempre começava no meio da tarde, quando devia abrir a loja e receber os transeuntes diurnos. Uma turma bastante previsível, idosos encantados com o ambiente retrô da livraria, jovens em busca de livros para a universidade que eles não conseguiam na Amazon, ou adultos perdidos, que procuravam um mapa local.
No início, não havia sessão de viagem. Mas a garota havia convencido sua estranha empregadora que eram bons clientes os turistas ocasionais. Agora, num cesto bonito perto do balcão, mapas novos e livretos de viagem atraíam a atenção de viajantes e crianças, como doces.
As coisas mudavam quando o sol se punha, a jovem sabia disso. Assim, que via as luzes vermelhas no tapete ela verificava todos os livros, arrumava o salão, afofava as almofadas, ligava as luzes e o abajur grande perto da vitrine, onde mudava os livros do dia, por algo mais convidativo aos “noturnos”, como ela chamava os esquisitos que vinham à loja. Gente da noite, homens e mulheres com ares perigosos ou festeiros. Normalmente ela deixava o lugar antes da maioria deles aparecer, mas já tinha passado por lá em algumas ocasiões, só para ver a dona, sua chefe, atendendo esses estranhos. A mulher era, por si, tão peculiar quanto eles. Suas botas caras de saltos grossos, a pele escura, olhos de um verde amarelado e os turbantes. Ao mesmo tempo que se sentia fascinada por ela, lhe causava arrepios.
– Você já pode ir, Srta Belenko.Um sobressalto. Não havia mais luzes no céu, e ela quase deixou cair os livros que segurava. “Quando ela saiu do andar de cima?”. A moça se virou para encarar a patroa, mas ela já estava caminhando para o escritório, distraída com o celular. Mesmo assim, de costas, aquela pessoa parecia uma mistura de predador noturno com conto de fadas. As pessoas da universidade juravam que ela era algum tipo de bruxa. Para Lydia Belenko, estudante e viciada em café, aquela mulher salvará sua livraria. Bruxa ou demônio, ela não se importava, desde que os livros estivessem exatamente onde precisavam estar… Bem ao seu alcance.O baque surdo da porta do escritório de administração foi como um alarme, despertando a moça do seu devaneio. Conferiu a hora no relógio de ponteiros sobre uma das estantes, onde os livros do romantismo dividiam espaço com crônicas modernas. Uma piada literária, que só a jovem era capaz de entender. Ainda tinha vinte minutos para comprar seu café preferido, antes do atendente chato chegar à cafeteria vizinha. Foi ao balcão deixar os livros e pegar sua mochila. Algo lhe chamou a atenção. Próximo a máquina de cartões estava um envelope e um pacote pardo, obviamente um livro, com as iniciais de sua chefe O.D. em letras traçadas à mão. Lygia pegou aquilo como se fosse feito de algum material explosivo, com cuidado e reverência. Abriu e pôde perceber o perfume leve e carregado de notas amadeiradas que era característico da senhora Dimitriova.
*“Minha querida,Em virtude desta data, aceite meus cumprimentos e este presente.Com toda minha estima.Olenska Dimitriova.”*A moça estava em choque. Tratou de abrir o pacote. Ali estava uma cópia vintage de A Colina Escarlate, perfeita e, obviamente, valiosa. Completamente aturdida, fitou o livro e então a porta onde a mulher havia se refugiado. Tentou conectar a razão daquilo e só então percebeu.– É meu aniversário…
Em minutos ela colocou suas coisas na mochila e saiu, batendo a porta. Apertava o livro entre os braços como se fosse algo frágil. Fitou o letreiro da Inocence e o salão iluminado.
– Bruxa ou não… – Sussurrou para a loja. –... O-Obrigada.
NOTA DA AUTORA Este texto foi concebido como o presente de aniversário para sua tão querida aamiga Téo. A primeira Alensker e minha companheira de madrugadas estranhas. A ilustração deste texto foi criada por Caciano Alisson (https://www.artstation.com/caciano77) sob encomenda.
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Texto escrito por Evelling Castro para a personagem da crônica Staryy Dom by Night - Vampiro: A Máscara, Olenska Dimitriova.
#RPG #VampiroAMascara #VampireTheMasquerade #V5
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<aside> 💀 Este conto faz parte do material produzido para a personagem Olenska Dimitriova, em sua participação no universo ficcional da campanha de RPG Staryy Dom by Night, do sistema Vampiro a Máscara Quinta Edição, jogada e exibida via stream no canal ****https://www.youtube.com/casavelharpg
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<aside> ⚠️ AVISO: Os textos a seguir podem conter linguagem imprópria, alusão a violência e descrições de ações perigosas. A Autora não incentiva que nada do que está escrito seja praticado no mundo real. Recomendado para maiores de 18 anos
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